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O pátio (Glauber Rocha - 1959)

18 de setembro de 2021

Por Allan Brasil

Um filme(e) experimental

de       Glauber      Rocha,

montagem     sonora   de

música             concreta...

Se       apresenta      assim,

sobre       um           xadrez,

Solon           Barreto         e

Helena                    Ignêz...

Filme        que     experimenta

como       próprio           autor

em          quadriculado       de

duas                             cores...

Obra debutante e menos conhecida na filmografia de Glauber Rocha, “O Pátio”, se é ponto inicial de uma trajetória, não é ponto que se converte em linha, mas gota que se esparrama em formas indecifráveis, apontando para as possibilidades infinitas do cinema, algo que Glauber perseguirá pela vida. Há aqueles que costumam acentuar neste filme um Glauber “antes da política”, porém, muito pelo contrário, “O Pátio” mostra um Glauber que “se prepara para a política”.

 

O quadriculado bicolor do pátio a que o título se refere, à moda de um tabuleiro de xadrez, trata de acentuar o elemento dominante da construção: a dualidade. Um homem (Solon Barreto) e uma mulher (Helena Ignêz), em sua sutil relação de corpos, que se aproximam e se distanciam, jogam junto com a câmera na dança polar que se desenrola. As folhagens das árvores e o cimento do horizonte citadino, a ausência de todas as cores (preto) e a junção de todas elas (branco), o estar e o não estar, poesia concreta que se escreve não com tinta, mas com enquadramentos cinematográficos. Mas eis que um instante se sobressai: o Homem, em primeiro plano, se contorce em agonia, intercalando-se a ele, a mulher olha diretamente para a câmera, com uma expressão de atenção. A montagem se acelera, a agonia se intensifica e o que antes era lido como atenção, passa a ser algo mais ambíguo. Esta sequencia, quase como um corpo estranho na estrutura do filme, nos faz levantar a sobrancelha. Seria essa dualidade, tão inequivocamente explícita, somente um elemento superficial? Sendo este o caso, qual seria então o elemento condicionante do filme, se é que podemos identifica-lo? Uma leitura imediatista poderia apontar a relação entre burguesia e proletariado, baseada na indumentária de ambos os personagens. Ou possivelmente a relação dialética entre o natural e o cultural, e na falsa dicotomia entre os dois. E assim a gota de tinta se esparrama e se envereda por caminhos impossíveis.

 

Se em “O Pátio”, as questões políticas não se apresentam como elemento central, a experimentação e a necessidade de levar o cinema a seus limites, características tão fortes na obra de Glauber, já se mostram aqui de maneira maduras. Estas breves palavras não pretenderam ser uma crítica, nem tão pouco uma análise, mas sim um convite, para que o leitor ou a leitora se debruce sobre o filme e tire dali suas próprias conclusões.

Confira o curta-metragem na íntegra:

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